domingo, 24 de outubro de 2010

O silêncio dos "inocentes"

No próximo domingo, 31, estaremos elegendo o novo Presidente do país. Relendo há pouco rascunhos de matérias publicadas no saudoso jornal local O Barrense, achei bem propício publicar aqui no meu blog esse artigo de minha autoria, publicado nesse jornal, nº 11A, p. 5, em agosto de 2002. Segue o artigo na íntegra:

                                                "Apaguem o que escrevi"
Há mais de 2000 anos, Aristótecles asseverava: Andro Zoo Politikon (o homem é um animal político). Politika (gr.) significa os negócios públicos do Estado. Politikê, a arte de governar a cidade.
Na Bíblia, cidade de Nínive, capital do império assírio, época do profeta Jonas (Jn 4:11): “E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que há mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem discernir entre a mão direita e esquerda...” É verdade e todo mundo sabe. É a alienação que faz os homens se calarem. Mas não é só a alienação, é também o descaso, a descrença nos políticos, a hiperinsensibilidade e, acima de tudo, o monomundo ao qual nos trouxe o capitalismo selvagem. É simplesmente cada um por si e quem quiser que dê seu jeito.
É impressionante essa conclusão, é quase impossível crer que, num passado não muito longe, milhares de jovens lutavam bravamente em busca do respeito a seus direitos mais elementares, como, por exemplo, a educação gratuita e de boa qualidade. Numa época muito mais preconceituosa, muito mais autoritária, uma sociedade viu-se quase que totalmente unida, forte e, acima de tudo, consciente de seu poder. E hoje? Como estamos? Onde está a sociedade, a comunidade? Em Salvador, cidade onde morei por quase 10 anos, a preocupação de muitos era constantemente com o ensaio do "Gera-Samba", ensaio disso, ensaio daquilo, ou em aprender a dança da "galinha”, do “thu-thu”, etc. Aqui em Barra, vejo a realidade um reflexo de lá... e festa! É essa a situação em que nos encontramos. Pessoas niilistamente céticas desfilam pelas ruas como se nada estivesse acontecendo, como se o País não estivesse sofrendo drásticas mudanças e que estaria muito longe de podermos mudar tal situação. As eleições estão próximas, e muito próximas. Em poucas palavras, a época do renomado sociólogo FHC: medidas antinacionais, sendo os alvos principais as instituições públicas, estas que garantem a soberania de qualquer povo, privatização, entreguismo e obediência ao capital estrangeiro foram, pasmem!, pauta permanente deste governo. Quanto a Educação, pasmem novamente, é uma falta constante de verbas, de professores, e o desejo sem trégua de privatizar as Universidades Públicas Federais, fato que viria a criar uma sociedade de castas, ou seja, onde não há mobilidade vertical. Nesta, quem nasce pobre morre miserável e quem nasce rico, morre, ou melhor, não morrerá jamais... Sem dúvida, a situação em que nos encontramos não dista muito daquela, mas, caso ocorresse a tragédia, a miséria estaria definitivamente instituída. A UFBA, claro, também não fugiria à regra, uma das mais importantes instituições de ensino do País estava na mira das reformas. E o que dizia o Reitor? Num ato de defesa, convocava uma Assembléia Geral para forjar uma contraofensiva no sentido de mostrar que realmente a Universidade é de inavaliável valor. E os estudantes, onde se encontravam? Dos milhares que havia na Universidade, poucos (tendo em vista sua imensidão) compareciam à solenidade, demonstrando assim uma imensa inconsciência (ou seria descaso?) em relação ao problema. No Instituto de Letras, onde me formei, eu e mais poucos estudantes saíamos recrutando colegas por outras unidades de ensino, mas pequena quantidade deles atendia ao chamado, a maioria alegava compromisso fora, ou prova, no próximo horário. Àquela altura existiam ainda professores insensíveis e alunos literalmente alheios e despreocupados. O que nós somos afinal?
Enquanto o governo maquinava contra a cidadania, os próprios cidadãos "conscientes" ficavam omissos, como ratos medrosos, como “pacatos cidadãos" que se escondiam há muito de sua história. É verdade e todos sabem que “os brasileiros” jamais foram donos de seus narizes, que sua independência foi comprada pela aristocracia e que nós somos apenas homens-massa.
Jorge Luís Santos Soares
é bacharel em Letras pela UFBA

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